Matueté Blog
20 de abril de 2023

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Diário de Bordo:

Gabi Figueiredo em uma aventura pela Antártica

A Antártica não estava na minha lista de desejos. Pelo menos não nas primeiras posições. Mas, depois de uma temporada no novo navio da Silversea, o Silver Endeavour, posso dizer que o destino subiu para o topo da minha bucket list. Quero voltar e mostrar para minha família quão incrível é essa jornada!  

Sabe aquelas viagens que mexem com o nosso imaginário? Muita expectativa, alguma insegurança e um certo frio na barriga. Fiz e refiz a mala uma dezena de vezes. Será que vou passar frio? Como será o calor dentro do navio? Será que vou me molhar? Qual o tamanho da aventura? 

Por mais que se leia a respeito, acredito que nada te prepara para visitar a Antártica. Então, companheiros viajantes, para ajudar nessa missão que recomendo fortemente a todos vocês, deixo aqui um relato da minha aventura

 


ANTES TARDE DO QUE NUNCA

A jornada até um dos cantos mais especiais do planeta

Não vou mentir: é longe! 4 horas até Santiago + 3,5 horas até Puerto Williams – e isso é só para chegar ao navio. Mas o esquema da Silversea ajuda a deixar tudo mais suave: depois de uma noite em Santiago, transfers e um voo fretado com 85 assentos levam os passageiros ao ponto de partida, com um serviço de bordo completo e simpático, que inclui entretenimento on-line.

Diante da pequena Puerto Williams, o navio parece grande, mas comporta apenas 100 cabines, algo tímido para o universo dos cruzeiros. As suítes são confortáveis e, quando o balanço no mar começa, entendo a vantagem de ter um closet generoso a bordo, que não deixa nada fora do lugar. E mais: no Endeavour, todas as cabines têm varanda – e pasme – é possível aproveitá-las em diversos momentos.

Devidamente instalada, hora do primeiro jantar em um dos quatro restaurantes do navio. Comida gostosa, brindes e viva! Zarpamos rumo ao 7º continente.

 


DRAKE, THE LAKE OU DRAKE, THE SHAKE?

As emoções do temido encontro entre o Pacífico e o Atlântico

O navio entra na famosa passagem de Drake logo na primeira noite. O encontro entre o Pacífico e o Atlântico pode ser agitado, com ondas de até 10 metros, ou mais tranquilo, quando ganha o apelido de “Drake, the lake”.  

Diria que a minha travessia foi um meio termo, com ondas de 2,5/3 metros, mas ainda assim mexeu com o meu equilíbrio. Não me intimidei e arrisquei um exercício na manhã seguinte – a academia é compacta, porém equipada –, o que é ótimo para manter o corpo em movimento durante navegações mais longas.  

E, apesar do toma lá, dá cá no mar, a programação dos primeiros dias a bordo me manteve ocupada: briefing de segurança, inspeção das roupas que seriam usadas nos desembarques para eliminar qualquer ameaça biológica, palestras, instruções sobre as normas da associação turística da Antártica e briefing do dia seguinte. Para descontrair, música ao vivo e drinks – até que a segunda noite não demorou a chegar.  


TERRA À VISTA

A paisagem da Antártica começava a compor meu horizonte

O terceiro dia de navegação começou com uma boa notícia: o primeiro desembarque estava próximo. Quando caísse a tarde, pisaríamos em terra firme – no arquipélago das South Shetland, mais precisamente em Yankee Harbour.  

paisagem Antártica começava a compor meu horizonte: geleiras, montanhas, mar e mais mar. Aquele navio, que em um momento pareceu ser grande, ficou pequenino na vastidão desse cenário. E em terra, pinguins inúmeros, elefantes marinhos e aves deixavam claro: o território era deles.


EXPLORAR É PRECISO

Tudo tão diferente e tão bonito

Os dias a seguir ficaram marcados por surpresas, vistas e emoções diferentes. Pode ser que o seu imaginário seja composto por uma Antártica meio igual, toda branquinha e repleta de geleiras, mas é incrível como a paisagem muda a cada passagem, a cada parada. Cores e formas de gelo que eu nem sabia existir, algas que colorem a neve. A vida marinha que acompanha o navio ou habita os portos. As formações geológicas. Os vestígios de ocupação humana. Tudo tão diferente e tão bonito.

Eram duas paradas diárias para passeios: metade dos passageiros ia por terra, com caminhadas por geleiras, pedras, praias vulcânicas; e metade por mar, nos robustos botes chamados Zodiacs, que nos deixavam cara a cara com a vida marinha.

Baleias jubarte, focas leopardo caçando ou descansando sobre pedras, focas weddel brincalhonas, pinguins nadadores. Cada interação é especial e única a ponto de a gente querer repetir os passeios, que em nada se parecem.

Tem chuva, tem vento, tem neve. Tem sol também. Às vezes, todos os climas no espaço de uma hora. Às vezes, uma manhã todinha de tempo bom. Como a que tive em Paradise Harbour, uma baía que faz jus ao nome. Imagine só: icebergs revelavam seus azuis em águas tranquilas e transparentes, enquanto baleias dançavam balé em volta do nosso Zodiac.  

Em alguns momentos o vento e a chuva dão dramaticidade ao cenário, o que não poderia ser mais apropriado para conhecer a Whalers Bay – uma antiga estação de extração de óleo de baleia – e entender as condições duras, duríssimas de se viver ali.   


PAUSA PARA UM MERGULHO – JURO QUE EU FUI!

A sensação de energia é indescritível

Não importa o quão friorento você seja: parte obrigatória de um cruzeiro na Antártica é o mergulho congelante e eu não recomendo ficar de fora desse momento de pura euforia no navio. Deu medo: a água estava entre -2 e +2°C e a dor pareceu alcançar meus ossos, literalmente, mas a sensação de energia que tomou conta de mim foi inexplicável. Teve drinks para ajudar a criar coragem e, depois, aproveitei um sentimento imbatível de superação


ANTÁRTICA, UM CONTINENTE

Enfim, Neko Harbour estava logo ali

Depois de algumas ilhas, finalmente o continente. A parada mais esperada aconteceu em Neko Harbour, um recorte na península com paredões de geleiras e lagoas tranquilas. O vento parecia tomar posse daquele território e a parada foi rápida, mas não menos emocionante. 7º continente para muitos no navio (ainda o 6º para mim).


SHACKLETON MUITO ALÉM DE UM SIMPLES CAMINHO DE VOLTA

Vontade de prolongar a temporada

Era chegada a hora de começar o trajeto de volta para casa. E, graças ao time de expedição de ponta do Silver Endeavour, em especial a líder de exploração e o capitão, as longas horas não demoram a passar. Juntos, eles desviaram do mau tempo e nos possibilitaram momentos emocionantes pelo caminho, como conhecer a Elephant Island. Foi lá que o explorador Shackleton e sua tripulação encontraram abrigo quando perderam seu navio, em 1916, para serem resgatados –  25 meses depois – e o relato da aventura foi contado em detalhes nas deliciosas palestras comandadas pela equipe de historiadores a bordo.  

Chegamos no Drake novamente e, mesmo maiores, as ondas já não me assustavam. Depois de quase 10 dias, me sentia tão à vontade que queria prolongar a temporada.

E, antes de terminar, respondo as perguntas que me trouxeram tantas dúvidas prestes a embarcar: 

Será que vou passar frio? Não, o navio oferece uma sensacional parca em duas camadas que segura qualquer rajada.  

Como será o calor dentro do navio? Temperatura agradável, mas bom deixar o casaco por perto para ir até o deque ver a vista de vez em quando.  

Será que vou me molhar? Vai. Mas o casaco e as botas fornecidas pelo navio seguram a água também.  

Qual o tamanho da aventura? Não é radical, mas é repleta de significados e, por isso, foi enorme para mim. 

 


Quer saber mais sobre essa imersão na Antártica e programar a sua viagem pelo continente? Escreva para a Gabi no [email protected].

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