Olá,
Das inúmeras viagens que fiz aos Lençóis Maranhenses, uma foi especialmente gratificante. Quando a Matueté identificou que precisávamos criar uma nova proposta de itinerário, diferente do que era sugerido por todas as agências naquele momento, abracei o desafio e me mandei para lá.
– Sobrevoo no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses –
E eu tinha um grande objetivo: criar um roteiro por esse lugar incrível, sem depender de Barreirinhas, a principal porta de entrada da região e já muito desgastada pelo turismo de massa. Nada fácil, mas este tipo de questionamento, buscando sempre o autêntico, transforma nossa maneira de produzir roteiros até hoje.
Lençóis tem uma natureza única, em constante mutação. Não existe nada comparável a essa paisagem transgressora, absolutamente inconcebível em qualquer outro lugar do mundo. Talvez algum deserto africano, só que ao avesso, já que água doce é algo nada raro nesta parte do Brasil!
– Olhando assim, até parece um deserto –
Hoje, algum tempo depois daquela viagem que modificou absolutamente tudo, é bom lembrar dos highlights. O ponto de partida foi São Luís do Maranhão; um pernoite tranquilo para garantir total disposição nos próximos dias…
– Entardecer no centro histórico de São Luís –
O plano era bastante simples: entrar nos Lençóis pela porta dos fundos, aquela que geralmente os turistas nem sabem que existe. E assim, parti de carro rumo ao município de Humberto de Campos, de onde saí numa voadeira pelo Rio Alegre – um rio despretensioso, esquecido pelo tempo, margeando mangues, buritizais e que não dá a dimensão do que acontece a seguir.
– A veloz e prática Voadeira (muito prazer!) –
De repente, ao fazer uma curva de rio me deparei com uma cena de tirar o folego – uma gigantesca duna de areia, a magnífica Ponta América. Tive ali a sensação de que meu plano ia dar certo!
O pequeno vilarejo de Santo Amaro, onde desembarquei, correspondeu totalmente a minha expectativa. Apesar de hotéis muito simples, encontrei um lugar extremamente hospitaleiro e ainda pouco corrompido por um turismo descompromissado.
Nos dias seguintes explorei as incríveis lagoas desta região (algumas podem chegar a 8 metros de profundidade) e levei um susto: eram ainda mais bonitas que as lagoas próximas a Barreirinhas. Parecia incrível que esse lugar era ainda tão pouco visitado! Sabia que com alguns toques especiais, que a Matueté se especializou em produzir ao longos dos anos, a rusticidade dos hotéis podia tranquilamente ser superada. Os cenários para picnics e jantares a luz de velas, eram perfeitos.
– Jantar a luz de velas nas dunas –
De Santo Amaro, passei rapidamente por Barreirinhas para confirmar aquilo que já sabia: não valia a pena passar muito tempo por lá, e logo embarquei numa voadeira para subir o Rio Preguiças em direção ao mar.
– Barreirinhas: um oásis de água fresca e dunas macias… a ser compartilhado entre muita gente –
Descobri os vilarejos encantadores de Atins e Caburé, onde as dunas encontram o mar e que hoje estão virando um ‘point’ de kitesurf. De lá, atravessei de quadriciclo para Paulino Neves, um outro interessante vilarejo, já próximo do fascinante Delta do Rio Parnaíba, e ponto de parada ideal para quem pretende esticar o roteiro e ir até Jericoacoara de jipe, já no Ceará.
E o que guardo dessa viagem de inspeção? A certeza que para desenvolver roteiros verdadeiramente inovadores, é necessário olhar além do óbvio, e não acreditar que o mais confortável é necessariamente melhor.
Lençóis Maranhenses é um destino que todos deveriam conhecer, especialmente os mais desprendidos, em busca de uma experiência transformadora, numa paisagem inigualável, que rompe os parâmetros naturais e sociais com os quais já estamos tão acostumados.
Onde mais encontrar a plenitude na simplicidade? Eu tenho certeza que o verdadeiro luxo mora nos Lençóis Maranhenses…
Espero que este relato seja uma inspiração para outras viagens fantásticas por aí.
Um forte abraço,
Bobby Betenson